Bom dia amigos! Hoje é dia de ler a segunda parte do estudo do meu amigo Guilherme Branco sobre as lesões no ciclismo. Espero que gostem. E mais uma vez, obrigado pela parceria e confiança Guilherme!
Lembrando que as inscrições para o curso sobre Lesões no Esporte estão abertas. os detalhes você encontra na publicação anterior a essa.
Um abraço a todos!
Rodrigo Lara
LESÕES NO CICLISMO – PARTE II
As lesões por sobrecarga (overuse) também podem acometer os
ciclistas. Vale ressaltar que quando é feita referência a lesão, esta pode ser
desde um desconforto local até uma alteração estrutural identificável
clinicamente ou através de exames laboratoriais e de imagem.
De uma maneira geral, estas
lesões além de poderem estar ligadas a fatores físicos do ciclista, possuem uma
relação íntima com os seus padrões de movimento durante a pedalada. Assim, assumir
posturas incorretas na bike ou realizar movimentos que provoquem mais
sobrecarga nas estruturas corporais podem gerar lesões nos pés, tornozelos,
joelhos, quadris, coluna, punho e mãos.
Para abordar estas lesões de
maneira eficaz e diferenciada, com foco na sua prevenção e na sua recuperação,
faz-se fundamental a identificação de fatores de risco ou mesmo causais. Desse
modo, a otimização da prática e do desempenho será obtida.
Cada uma das regiões passíveis de
apresentação de queixas dolorosas relacionadas à prática do ciclismo pode
apresentar fatores principais que podem estar relacionados ao risco ou à
contribuição para sua ocorrência.
Tornozelo-pé
A incidência de lesões por
sobrecarga/crônicas (overuse) ao complexo do tornozelo-pé é baixa e geralmente se
relaciona à interface entre o pé do ciclista e o pedal. Fatores associados ao
design da sapatilha, design do pedal e mesmo altura do selim devem ser
examinados se algum desconforto ocorre. É
interessante que as alterações estruturais dos pés, identificadas através da
análise do padrão da pisada e do alinhamento de suas estruturas, podem ter uma
repercussão maior sobre a movimentação dos joelhos e, consequentemente, sobre
queixas dolorosas nos joelhos do que sobre lesões específicas sobre o tornozelo
ou o pé. Nestes casos, o adequado posicionamento dos tacos da sapatilha e o uso
de palmilhas biomecânicas podem ser eficazes para prevenir, controlar ou
solucionar lesões.
Joelhos
O fator primário influenciando a
dinâmica do joelho e a subsequente sobrecarga do mesmo é o fit (adequação) entre o ciclista e a bike. Isto inclui o alinhamento
entre a sapatilha e os tacos, altura e o avanço-recuo do selim, bem como as
posições aerodinâmicas adotadas. Fatores secundários incluem técnicas
individuais de pedalada, variações estruturais e assimetrias anatômicas apresentadas
pelo ciclista. Estas assimetrias estruturais necessitam de adaptações
individuais no ajuste da bike e modificações seletivas nos componentes dos
equipamentos.
Quadril
Este é o local mais comum de
abrasões superficiais (ralados) relacionadas a acidentes. Já as lesões por
sobrecarga (overuse) são raras.
Sugere-se que quadros de dor lateral no quadril possam ser desenvolvidos como
resultado de um selim muito alto. Como poucos ciclistas conseguem manter o
selim alto por períodos prolongados, talvez isso possa contribuir para o baixo
índice de registros de lesões no quadril.
Lombar
A coluna lombar é um foco
importante de queixas dolorosas no ciclismo. Apesar de a dor lombar ser uma
queixa mais branda em termos de intensidade, é a que gera maior quantidade de
cuidados médicos. Enquanto algum grau de desconforto lombar possa ser
considerado como uma parte normal do esporte, mais de 1 em 5 ciclistas relatou
que a dor lombar causou redução no desempenho esportivo. Além disso, uma significativa
maior porcentagem de ciclistas relatou sintomas em longo prazo (1 mês) e 1
atleta finalizou sua carreira profissional devido a dor lombar. Fatores como
inclinação inadequada do selim, alcance ao guidão muito longo e desnível entre
o selim e guidão demasiado, bem como diferenças no comprimento dos membros
inferiores, podem ser importantes geradores ou contribuintes para esta
condição.
Cervical
Terceira região mais comum de
queixas dentre os ciclistas, a região cervical (pescoço) pode ser bastante
sobrecarregada com a prática do ciclismo. As principais causas de desconforto e
dor nessa região são grande desnível entre o guidão e o selim e,
principalmente, alcance ao guidão excessivo, especialmente quando o ciclista
assume posições aerodinâmicas.
Membros superiores
A principal queixa para os
membros superiores se concentra na região dos punhos e das mãos, para os quais
a queixa comum é a dormência, geralmente com aparecimento após períodos mais
prolongados de prática. Selim demasiadamente inclinado para baixo, desnível
grande entre o selim e o guidão, inadequação da inclinação das manetes de freio
e manutenção dos punhos estendidos (dedos acima da linha do punho) durante a
prática podem se relacionar a estas queixas.
Em geral, quando é identificada uma
lesão em ciclistas, a compreensão dos fatores biomecânicos, ou seja, dos
fatores fisiológicos e mecânicos básicos envolvidos no pedalar deve ser obtida.
O empecilho para a aplicação da biomecânica ao ciclismo é que o complexo enorme
de variáveis físicas e mecânicas está completamente inter-relacionado. O sistema
como um todo considerado conjuntamente – posição na bike, geometria do quadro,
tamanho do pedivela, cadência, potência produzida, velocidade, intensidade e
volume do treinamento – é tão inter-dependente que se uma variável for
modificada, isto afetará inúmeras outras, fazendo do estudo de uma variável
isoladamente algo praticamente impossível.
Se você apresenta alguma queixa
ou não quer que elas apareçam, procure um especialista esportivo para realização
de uma análise detalhada dos dois grupos importantes de variáveis: corporais e
mecânicas. Desse modo você garantirá desempenho otimizado e aumentará sua “vida
útil” na prática esportiva mais segura e confortável.
Dr. Guilherme Ribeiro
Branco
Fisioterapeuta
CREFITO-4 / Nº
70407-F
Especialista em
Fisioterapia Esportiva
SONAFE 272
Sócio-diretor e
Fitter BIKE FIT BH